26.3.08

Tudo bem?

E tudo caminha bem no país do jeitinho, da olhada na bunda da moça quando passa, dos milionários de plantão que dão duro na telinha e enriquecem em 90 dias.

Tudo vai muito bem, obrigada. Obrigada mesmo por perguntar. Por perguntar e não querer ouvir. Porque sabemos bem que a pergunta é retórica. Afinal, quem é que pergunta “Oi, tudo bem?” e espera como resposta “Quer mesmo saber? Então senta aí.” Não! Não é isso. Não vamos dispor de 4 horinhas de ouvido e paciência para adentrar seu universo”. Não, não, meu amigo. Faz parte da fantasia da polidez. A resposta é “Tudo bem, e você?” E em seguida vem o “tudo bem, também”. "É, o jogo da vida ensina". Quanta besteira, minha nossa.

Eu não estou revoltada. Que coisa! Porque toda vez que eu pretendo questionar algo que, na minha lógica (que seja absurda) não faz sentido, me dizem que sou revoltada? Mas que grande porcaria. Só estou cansada. Do lirismo comedido, da máscara de polidez, do “Tudo bem?” retórico, do “Deus te abençoe” decoreba, do “Oi, sou super seu amigo agora! De repente passei a me importar tanto com você...vamos nos “falar” toda semana no MSN.”, ah me poupe.

Frase: “Nunca fiz amigos bebendo leite”. Ótimo, meu querido, sinto informar que se isto é “amizade”, talvez, realmente, você nunca tenha feito amigos.

E eu fiz? Ahh fiz. Tomando leite, toddynho, chocolate quente, cerveja também, mas não preciso de um bar para ter amigos, pelo amor. Não quero precisar. Eita cidade (país, mundo?) do caos, estranha e que, sim, tende à melancolia.

Flâneur:

Outro dia, descia eu a rua Augusta, às três da tarde, diga-se de passagem, à caminho da burocracia da Sptrans para conseguir meu descontozinho abençoado de estudante no vale-transporte.

É legal observar a Augusta de dia. A rua que tem aquela fama danada e um comércio complexo às noites é uma mini-sampa aglutinada em uma rua. Os mais variados tipos.

A pérola negra e alta, sacola e óculos fashion, fita colorida no cabelo tónhoinhóin, pernas esguias que terminam em uma sandália amarela ofuscante; O gay que leva o cãozinho (boxer) pra passear; A senhorinha de cabelos de lã, blush, batom e camafeu impecáveis que sai do bazar (sim, há bazares que fizeram me sentir no interior) carregada de sacolas; O careca de calça xadrez que tem tantas tatuagens e piercings no corpo quanto a quantidade de listras em sua calça; A mini-coreana de cabelos cor de petróleo que brinca na calçada.

É um universo e tanto antropológico. Daria pra ficar ali o dia inteiro. E o comércio? Antes de chegar aos estabelecimentos que, àquela hora do dia, estampava os neons apagados, tem de tudo: mercearia, papelaria, academia, hotel, comida mexicana, pizza, botecos mil, teatro, cinema, brechó, antiquário.

Estranho é andar devagar e a observar. O povo com o olhar pra baixo, o passo rápido, e a estranheza peculiar de quando tromba o olhar contigo. Como se olhar no olho da gente machucasse. Capaz...

Talvez essa miscelânea de imagens, informações, cheiros, gostos, junto à ausência da presença gere essa coisa estranha, esses sentimentos sem nome.

Então, um grande brinde – de vinho barato, porque qualquer um deles me dá dor de cabeça – às diversas formas da senhora máscara de hipocrisia, à clausura embalada em caixa bonita de modernidade, à distância de tempo real entre a gente.

E não espero um comentário para concordar, discordar, reiterar, ou seja lá o que for com o meu texto. Isso aqui é só um dos meus vícios “aliviantes”. Assim como a sua cerveja santa de sexta-feira.

Ouvindo Tell me what we’re gonna do now - Joss Stone.

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